Devemos ressuscitar a escola dominical?
Por Alessandro Brito
Duas notícias
vindas do Reino Unido me chamaram muita atenção, pois sei que em breve
influenciarão a nossa sociedade. A primeira é referente ao anuncio da
nova diretriz escolar que diz que o ensino do criacionismo será proibido
em todas as escolas na Inglaterra, mesmo as confessionais. Além disso
os professores terão de promover desde as primeiras séries “o respeito
pelos direitos dos homossexuais”. As instituições que se negarem a
seguir a nova diretriz, poderão ser multadas ou terem as sua licenças de
funcionamento revogadas.
Uma segunda é
sobre, Eddie, um pedófilo confesso, que em um documentário exibido pelo
Channel 4 (O vizinho pedófilo) busca encorajar a sociedade a dar mais
apoio às pessoas sexualmente atraídas por crianças. O objetivo é levar
os ingleses a discutirem se devem seguir os mesmos passos que a Alemanha
que já oferece tratamento psicológico para quem sente desejos sexuais
por crianças.
Com base nestas
notícias pergunto, como distinguir o certo do errado? Seria uma
responsabilidade única do estado estabelecer regras para um bom conviveu
em comunidade? Quem determina se as leis aprovadas pelas autoridades
constituídas são corretas ou não? Qual é a base das leis que nos regulam
como sociedade? Faço essas perguntas, pois o meu certo nem sempre é o
seu certo, principalmente em um período onde nada é absoluto, mas sim
relativo, certo? Errado!
Deus é quem
determina os padrões éticos e morais de sua própria criação. Isto
mostra o quão importante a Bíblia é para a nossa sociedade, pois ela é a
Palavra de Deus. A Escola Bíblica Dominical, ou EBD, tem sido por anos o
instrumento de propagação dos ensinos bíblicos. Porém mesmo sabendo
disso é confrontada por muitos que dizem que ela é algo arcaico e
ultrapassado e por isso não atinge os objetivos de um mundo pós
moderno. Críticas que parecem seguir os conselhos de uma das músicas do
Pink Floyd que dizia que não precisamos de educação. Pergunto então,
será que os cíticos possuem razão? Quais as causas da constante evasão
dos alunos? Quais são os desafios da nossa EBD?
A proposta deste
artigo é o de encontrar respostas para estas perguntas e tentar apontar
princípios que ajudem a EBD a retomar uma força perdida ao longo do
tempo.
História da EBD
Nos tempos do
antigo Testamento cabia aos sacerdotes, profetas e reis o ensino da Lei
de Deus. Isto fica claro quando analisamos a Bíblia e encontramos
passagens como a do rei Josafá que enviou levitas e sacerdotes por toda a
terra de Judá para ensinar ao povo a Lei do Senhor.[1]
No livro de Neemias encontramos outros registros de aulas dadas ao povo
de manhã ao meio dia, povo ao qual chorava ao ouvir as palavras da Lei[2]. Aulas religiosas eram também comuns nas sinagogas sempre ministradas sobre a orientação dos doutores da lei.
No Novo
Testamento encontramos Jesus como um grande professor do Evangelho em
sinagogas, casas, templos e ao ar livre. A igreja primitiva dava também
muita importância a o ensino das Escrituras. Paulo e Barnabé, por
exemplo, dedicaram suas vidas ao ensino da Palavra de Deus. Professores
que passaram um ano ensinando na igreja de Antioquia, um ano e meio na
igreja de Corrinto e três anos na de Éfeso de acordo com o livro de
Atos.[3]
Com a Reforma
Protestante, no século 16, o estudo da Bíblia voltou a ser algo
primordial o que trouxe luz a escuridão espiritual que a igreja vivia na
Idade Média. Séculos mais tarde surge na Inglaterra a EBD com
contornos semelhantes aos que existem hoje em nossas igrejas. O
responsável por esta escola foi o jornalista Robert Raikes que iniciou
aulas para crianças pobres aos domingos. Nestas aulas eram ensinadas
várias materiais como aritmética, ensino de textos bíblicos e princípios
cristãos. Este modelo foi muito criticado na época pelas igrejas que
consideravam o seu projeto como “profanador dos domingos”.[4]
Mesmo com
oposições em 1782 na cidade de Gloucester nasceu à primeira escola
bíblica dominical em caráter permanente através do colaborador batista
William Fox. No final de 1784 mais de 250 mil alunos estavam
matriculados em escolas espalhadas por toda a Grã-Bretanha. Esta
novidade cruzou fronteiras e já no século 19 estava presente em países
como Escócia, Holanda, Alemanha e Estados Unidos. Em 19 de agosto de
1855 os missionários Robert e Sarah Kalley iniciaram em Niteroi, no Rio
de Janeiro, a aula inaugural da primeira EBD no Brasil cumprindo assim a
Grande Comissão.
A Grande Comissão
Jesus tem o
ensinamento das escrituras como algo fundamental para os seguidores de
ontem e de hoje também. Quando Jesus apareceu para os seus discípulos,
após a sua ressurreição, ele deixou uma ordem para que conforme os
discípulos fossem fazendo discípulos de todas as nações e batizando-os,
deveriam também ensiná-los a guardar todas as coisas que Jesus já havia
ensinado (Mateus 28.19-20).
Por isso é
impossível existir uma igreja verdadeira que não ensine a palavra de
Deus. Digo verdadeira, pois Jesus não nos deixou uma opção ou uma
sugestão, mas sim uma ordem. Deixar de realizar o estudo da Bíblia é
desobediência. É isso que nos difere daqueles que o seguiam, mas logo o
abandonaram por tomar conhecimento de que: “Quem não toma a sua cruz e
não me segue, não é digno de mim.” (Mateus 10.38).
Dizer que não
precisamos da EBD ou qualquer outra forma de discipulado ou ensino da
palavra, e deixar de cumprir parte desta comissão.[5]
Deixar de estudá-la e como ser um analfabeto espiritual correndo um
sério risco de cometer erros, não gramaticais, mais sim espirituais
conhecidos como pecado. A EBD é uma ferramenta para a execução da grande
comissão é não algo predestinado a extinção. Mas como não interromper
esse ciclo?
Desperte o interesse dos alunos
Quando alguém é
alcançado, ou seja, ouve as Boas Novas do evangelho, aceita a Cristo por
meio do Espírito Santo e é batizado precisa amadurecer a fé por meio
do estudo da Palavra de Deus. Por que? A fim de ser enviado e fazer um
outro discípulo. Esse é o ciclo, da grande comissão, que só tem fim com a
vinda de Cristo.
Não podemos
esperar com que as pessoas se interessem pelo estudo da Palavra de Deus
como que num toque de mágica. São os líderes professores que devem
esclarecer a toda a igreja que o aprendizado é algo fundamental na vida
cristã. O autor do livro Socorro sou professor da Escola Dominical,
Lécio Dornas salienta que: “É tarefa do pastor e dos educadores da
igreja despertar o interesse, motivar e conscientizar os professores da
EBD da sua importância e valor no ministério de ensino da igreja”.[6]
Muitas igrejas,
não completam o ciclo da grande comissão. Igrejas que estão cheias de
pessoas que param no estágio do batismo e de lá não saem mais. Pessoas
que não se aprofundam no conhecimento das escrituras e assim se acomodam
e não se preparam para serem enviadas. Não é de se assustar como alguns
ministérios cressem numa velocidade assustadora e outras não. Igrejas
que não prezam a Palavra de Deus, não pregam a verdade, e que ignoram o
arrependimento.
Ensine a Bíblia com toda a responsabilidade
O professor é um
privilegiado por exercer o ministério do ensino da Palavra de Deus
obedecendo e executando a missão dada por Jesus a nós. Ele nunca se
esquece de preparar as suas aulas, contextualizar os assuntos que serão
abordados em sala, dedicar tempo com Deus em oração, ser pontual e dar
todo o louvor a Deus. O resultado disso é que os alunos terão zelo no
estudo da palavra e na aplicação do que aprenderam.
Sem alguém, com
muita responsabilidade, para explicar a Bíblia é impossível conhecer as
escrituras corretamente. Esta é a razão pela qual o professor tem um
papel fundamental na vida da igreja. Ele é a ponte entre as escrituras e
os alunos. Veja o que Dornas diz em seu livro sobre esta ponte chamada
professor:
O professor
encontra prazer em ver pessoas atingindo o outro lado do rio. Sem ponte,
o outro lado é sonho, com ela é topia, é realidade. Sem a ponte, o mar e
o abismo são invencíveis, com ela ambos são domados e superados. Sem a
ponte os benefícios da travessia se relativizam, com ela tornam-se
desafios. Ser professor da Escola Dominical é ser ponte.[9]
Em seu livro
Dornas diz também que o professor é um eterno aluno em constante
aprendizado. É um servo de Deus que renuncia uma infinidade de coisas se
propondo a ensinar. Diz também que o professor é um canal de
crescimento da igreja. O autor cita Valdir Steuernagel ao dizer: “A
qualidade de discípulos que o evangelho produzir, no contexto de uma
igreja, será o atestado de quão saudável ou enfermo foi o crescimento
desta igreja”.[10] Howard Hendricks em seu livro, Ensinado para transformar vidas, diz que:
Há muitos
professores que vão para a sala de aula totalmente despreparados ou
preparados apenas em parte. São como mensageiros sem mensagem.
Falta-lhes a energia e o entusiasmo necessários para produzirem os
resultados que, centralizado por direito, devemos esperar de seu
trabalho[11].
Faça com que a igreja transmita os ensinos como testemunhas vivas
Jerry Wilkins em um dos seus livros diz que: “Os não crentes não conhecem os benefícios e valores da EBD”.[13]
Isso acontece, pois achamos que as pessoas precisam descobrir a Bíblia e
sua relevância por elas mesmas. Porém, guardar os ensinos de Cristo não
significa retê-los, mas obedecê-los. O discípulo que obedece ensina,
pois sabe que essa não é uma atribuição só de teólogos, pastores ou
professores da EBD, mas sim de todo o seguidor de Cristo.
Todo discípulo
deve ser um conhecedor da palavra de Deus para que poça pregar com
convicção e autoridade a outros. A divulgação do evangelho, só deve
acontecer se os alunos realmente acreditarem nos ensinamentos da Bíblia.
“Se alguém promove o que faz, crê na sua eficácia”, diz Dornas em seu
livro.[12]
Uma pessoa
convicta de que a Bíblia é poder para a salvação prega sem mesmo abir a
boca, só por meio de ações. Jesus, Paulo e outros discípulos pregavam
com autoridade por conhecerem a palavra de Deus e colocar todo ensino em
prática.
Contextualize a Bíblia tendo em mente os não crentes
Um colega de
trabalho me disse que gostaria de estudar a Bíblia e me perguntou qual
seria os livros mais fáceis de serem compreendidos. Disse para ele ler
os Evangelhos. No outro dia, ele me disse que havia corrido todas as
paginas da Bíblia por várias horas, na tentativa de encontrar o livro
chamado “Evangelhos”, mas não achou. Errei por não conhecer o contexto
de meu amigo.
Os professores
devem saber transmitir o conhecimento de forma com que os alunos e
visitantes entendam as aulas da EBD. Devem utilizar um linguajar claro
para os dois públicos, contextualizando sempre a palavra de Deus.
Precisam transmitir conhecimento de forma simples ainda que com
conteúdo. Deve conhecer o contexto de sua comunidade e estar pronto para
a mudança.
O professor Eudes Martins da Silva, editor da Editora Vida, diz que: “Não adianta seguir modelos rígidos, é preciso adaptar-se”.[14]
Isto quer dizer que os educadores devem estar prontos para atender as
necessidades daqueles que por algum motivo não podem frequentar a EBD no
domingo pela manhã, mas que pode assistir a aulas em dias e horários
diferentes dos tradicionais. Isto pode ser realizado pelos professores,
evangelistas ou pastores da igreja.
Conduza os alunos a um culto verdadeiro
Em entrevista
para a revista Vinde, edição 46, a jornalista Mirian Leitão disse que o
estudo da Bíblia influenciou muito a sua conduta profissional e ética e
que a EBD foi fundamental para a formação de seu caráter.[15]
Esta é na verdade o resultado de uma EDB verdadeira que tem como
objetivo educar discípulos para serem semelhantes ao nosso mestre Jesus
Cristo.
A EBD tem como um
de seus mais sublimados objetivos justamente a educação do homem.
Prestemos atenção a estas palavras de Paulo: “Toda Escritura é
devidamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para
corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra” (2 Tm 3.16,17).
A Escola Bíblica
Dominical é o local onde a liderança fiel a escritura deve deixar claro
as suas posições sobre todos os assuntos que envolvem a igreja como:
homossexualismo, aborto, liturgia, louvor e adoração, estilo de música,
pecados entre outros. Igrejas com problemas doutrinários e que estão se
dividindo são em grande parte igrejas que não tem a EBD e seus ensinos
como um dos focos principais. Membros que não sabem ao certo a posição
de suas igrejas para determinados assuntos, acabam se chocando com
opiniões divergentes.
Conclusão
O estudo da
Bíblia e o plano de Deus e nossa responsabilidade é avaliar as nossas
Escolas Dominicais continuamente para que elas não percam o foco. Os
educadores e líderes da EBD, devem se preparar continuamente para
acompanhar o mundo e se manter atual e relevante. Isto faz com que a EBD
deixe de ser algo ultrapassado, para se tornar um dos grandes
instrumentos de evangelização. Além disso, nós pais, não podemos
terceirizar a tarefa de ensinar a Bíblia aos nossos filhos. Desafio você
a redescobrir a alegria não só das manhãs de domingo, mas também do
conhecer a palavra de Deus e anunciá-la principalmente aos seus filhos
dia após dia.
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