Governo anuncia alta na conta de luz pela terceira vez consecutiva no ano e reajuste deve atingir 40% nos próximos meses. Até onde isso pode chegar?
Por : Claudio Dantas Sequeira
Na véspera de 7
de setembro de 2012, a presidente Dilma Rousseff foi à TV fazer um
pronunciamento com promessas de forte apelo social decoradas com frases
de efeito. Falou em baixar juros, reduzir impostos e equilibrar o
câmbio. Mas a cereja do bolo foi o anúncio de medidas destinadas a
baixar a conta de luz. Quatro meses depois, a promessa foi cumprida com a
edição da MP 579. Dilma fez, então, um novo pronunciamento declarando
que o desconto seria ainda maior que o previsto: em média 20%. “As
perspectivas são as melhores”, disse. Esses números ajudaram Dilma a se
reeleger, convencendo o eleitor menos informado do sucesso de sua
política. Tratava-se obviamente de um engodo. Logo no início de 2015, a
realidade bateu à porta. Em apenas três meses, a conta de luz subiu em
média 35% e deve chegar a 40% em breve. Na semana passada, a Aneel
autorizou o terceiro reajuste nas tarifas de energia das principais
distribuidoras do País.
Com a eletricidade mais cara, o custo da
produção na indústria também sobe e esse aumento é transferido para o
preço de produtos e serviços. Assim como acontece com a gasolina e a
água, o custo da eletricidade atinge toda a cadeia produtiva. A alta da
conta de luz sofreu não apenas um, mas três tipos de reajuste. Uma
correção extraordinária para cobrir os custos da eletricidade de Itaipu,
indexadas ao dólar; o reajuste anual dos contratos de cada
concessionária e o aumento da taxa extra da bandeira tarifária.
Somando-se tudo isso, a energia elétrica foi, sozinha, responsável por
mais da metade da inflação registrada em março, que acumula 8,13% em 12
meses – a maior alta em 11 anos.
Segundo o IBGE, com a entrada em vigor da
revisão das tarifas aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica
(Aneel), “ocorreram aumentos extras fora do reajuste anual para cobrir
custos das concessionárias. Na mesma data, houve um reajuste de 83,33%
sobre o valor da bandeira tarifária vigente, a vermelha, passando de R$
3,00 para R$ 5,50 para cada 100kWh”, explica o IBGE em seu relatório
divulgado no início de abril. A chamada “bandeira tarifária” estabelece o
pagamento de uma taxa extra para consumidores de regiões onde há
aumento do custo de produção de energia. Isso acontece, por exemplo,
quando é preciso acionar as usinas termelétricas para compensar a queda
na produção das hidrelétricas por causa da falta de chuvas.
PALAVRAS AO VENTO
Na campanha, Dilma vendeu a redução das tarifas de energia como uma
política eficiente de governo. Sabe-se agora que era mais um engodo
Na campanha, Dilma vendeu a redução das tarifas de energia como uma
política eficiente de governo. Sabe-se agora que era mais um engodo
O sistema de bandeiras foi criado para
evitar o colapso das companhias que, antes, arcavam com os custos extras
de uma produção mais cara até a data oficial de reajuste do contrato, a
cada 12 meses. Sem fluxo de caixa, situação financeira dessas empresas
ficava fragilizada. As bandeiras tarifárias deveriam ter entrado em
vigor ainda em 2014, mas a Aneel decidiu postergar sua aplicação
alegando que as distribuidoras não estavam tecnicamente preparadas. “No
mercado, especulou-se que o adiamento foi influenciado pelo próprio
governo que temia uma repercussão negativa em ano eleitoral”, afirma o
consultor Mateus Tolentino, da Prime Energy.
Quando Dilma anunciou o pacote de bondades
em 2013, ela sabia que estava tapando o sol com a peneira. O governo
jogava com a possibilidade de não renovar as concessões daqueles que não
aderissem à MP. Mas a pressão teve efeito inverso. Gigantes como CESP,
Cemig e Copel, além de outras menores, alertaram que não havia margem
para cortes nas contas de luz e disseram que entregariam suas operações.
Para evitar isso, negociou-se um aporte de R$ 8 bilhões do Tesouro para
que as companhias cortassem as contas, subsidiando na prática a medida
com dinheiro público. A situação, porém, ficou ainda mais crítica por
causa da redução das chuvas que levou ao acionamento das térmicas. O
dinheiro foi usado para cobrir custos extras com a compra de uma energia
mais cara.
O buraco aumentou e o governo chamou o pool
dos maiores bancos do país para cobrir o rombo. Foi feito um empréstimo
de R$ 10 bilhões com vencimento para 2015. Mesmo assim, não adiantou. E
novos empréstimos foram efetuados, criando um esqueleto de mais de R$
34 bilhões. Se o governo não tivesse segurado os reajustes, o consumidor
teria pago os custos extras normalmente em sua conta de luz. Com os
empréstimos feitos para bancar a política de Dilma, terão de bancar um
valor maior, devido aos juros cobrados sobre esses financiamentos. A
conta sobra mais uma vez para o contribuinte.
Foto: Rubens Chaves/AE
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