É impossível uma mudança num país inteiro sem que haja a reconstrução da consciência moral de cada brasileiro”
Ontem, eu estava me dirigindo a uma
agência do ‘Pague Fácil’, quando um homem muito simpático me abordou e
me entregou as duas senhas dele, as próximas que seriam chamadas e das
quais ele não precisaria mais. Aquele homem acreditava estar
prestando-me um grande favor, porque eu estava com uma camisa da RCC
[Renovação Carismática Católica], com uma enorme cruz. Ele também
parecia pertencer a alguma comunidade cristã, por essa razão, imaginava
estar prestando uma gentileza a um semelhante em Cristo.
“(…) essa mudança só será possível quando bispos, padres e leigos tiverem empenhados em mudar a mentalidade dos cristãos”
Eu lhe agradeci cordialmente por aqueles
números, pois aquelas senhas me proporcionariam a oportunidade de pagar
minha conta de telefone em três minutos ou menos. Com aquele “favor”, eu
passaria na frente de umas trinta pessoas que estavam antes de mim na
fila. Entrei na agência, peguei minha senha e fiquei na fila como
qualquer um deve fazer, no entanto, permaneci com os números doados
ainda por algum tempo. Uma distinta senhora viu as senhas em minhas mãos
e me pediu uma delas. Com toda educação, neguei-lhe o pedido e lhe
disse que não as usaria, pois não era ético. Ela, com cara de nojo,
afastou-se de mim dizendo que, se eu havia ganhado aquelas senhas,
poderia usá-las, porque foram um presente.
Aquela mulher imaginava que a senha fosse
um bem do qual eu poderia ter lançado mão sem fazer mal a ninguém. Ela
foi incapaz de enxergar que uma senha é uma forma de organização, e que
qualquer vantagem constitui um delito moral já não distinguido pela
maioria dos brasileiros.
Fala-se muito em “reforma
política”, mas, infelizmente, nossas paróquias, tão engajadas em
aprová-la, se esquecem do básico: é impossível uma mudança num país
inteiro sem que haja a reconstrução da consciência moral de cada
brasileiro. E essa mudança só será possível quando bispos, padres e
leigos tiverem empenhados em mudar a mentalidade dos cristãos.
Não é necessário ir a Brasília nem
trabalhar em prefeituras ou órgãos do Estados para presenciar os
festivais de corrupção que se alastram rapidamente sobre a mentalidade
debilitada de um povo que esqueceu sua vocação de filhos de Deus. Um povo que considera como corrupção apenas o que se passa
no Governo, mas se esquece de que ninguém rouba milhões sem, antes, ter
roubado algumas posições na fila do banco ou de um ‘Pague Fácil’.
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