terça-feira, 5 de julho de 2011

Não somos forasteiros

Do Zé Dudu

Vivenciaremos em breve o plebiscito que servirá para apontar o desejo da população do sul e sudeste do Pará de criar um novo Estado para chamar de seu, o Estado do Carajás.

Diferente do que dizem alguns contrários a separação, os desejos não são novos e nem dos chamados "forasteiros". Eles datam dos fins do século XIX, quando a população dos vilarejos ao longo dos rios Araguaia e Tocantins já reclamavam da falta de assistência da província do Grão-Pará (atual estado do Pará). Em 1908, o movimento emancipatório desenvolvido em Marabá, levou o advogado provisionado João Parsondas de Carvalho a levar ao governo de Goiás a proposta dos vilarejos de Marabá, Conceição do Araguaia e São João do Araguaia de vincular-se àquele Estado. A região pertencia ao município de Baião, que nenhuma assistência podia dar à região, pois a sede municipal era muito distante. O Governo goiano enviou nomeação a Norberto de Melo, para ser arrecadador de tributos. O governo do Pará reagiu, criando o município de São João do Araguaia.

Em 1940 o brigadeiro Lysias Augusto Rodrigues, formulou uma proposta e apresentou ao então presidente Getúlio Vargas, de desmembramento das comarcas do norte de Goiás, do sul do Maranhão e do sul (e sudeste) do Pará, de forma que estas viessem integrar a unidade federativa do Tocantins, sendo que pela proposta do brigadeiro a capital de tal estado deveria ser Marabá no sudeste do Pará.

Em 1969, a região passou a abrigar guerrilheiros do PC do B, que objetivavam, montar uma guerrilha na região para combater o regime militar instalado no Golpe de 1964. Os guerrilheiros eram cientes de que a região não tinha acesso aos serviços públicos essenciais, e levavam á população local, atendimento médico e educacional, a fim de conquistar o apoio local. A região por fim se transformou no palco da Guerrilha do Araguaia, que foi derrotada pelas tropas federais.

Mesmo com as obras federais de integração da Amazônia durante o regime militar, e com a intensa atividade garimpeira, a região sempre ficou a margem do desenvolvimento do estado. Entre os anos de 1980 e 1988 com o fortalecimento do "Movimento Pró-Criação do estado do Tocantins", a região voltou reclamar sua emancipação, criando o Movimento Pró-Carajás, mas somente o Tocantins consegue o pleito.

O desejo de separação não terminou aí. Foi criada a Comissão Brandão, que manteve acesa a chama da separação culminando agora com a autorização do Congresso Nacional para que seja realizado o plebiscito.

Os fatos acima descritos, retirados do site Wikipédia, mostra que a história de Carajás não começou agora e tão pouco é desejo apenas de goianos, mineiros, capixabas, maranhenses e outros bravos lutadores que na região se instalaram, povoando-a, cultivando-a, criando raízes. A falta de interesse do governo estadual em assistir essa região não é de hoje e está intrinsicamente ligado ao desejo de separar.

Nenhum morador da região sul e sudeste do Pará, tem motivos para falar mal do Pará. O Estado nos acolheu, nos deu a chance de aqui trabalhar e ganhar nossos sustentos. Geramos, em contrapartida, emprego e renda. Contudo, como um filho que cresce, chega o momento de separar e criar sua própria família. Assim como a dor de pai e mãe pela separação, entendo a posição de alguns paraenses, contrários a separação, e digo sempre: esta divisão vai somar.

Taxar os que apostam e torcem pela separação de "forasteiros" é uma falta de respeito e uma bobagem dita apenas por aqueles que não têm argumento melhor para defender sua ideia. Eu, como muitos, estou aqui há 27 anos e não me considero menos paraense do que alguns nativos.

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