quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Depois do assassinato da pequena Thais, estudantes iniciam protestos em Parauapebas. Que seja o começo de um movimento que obrigue o Governo do Pará, enfim, a fazer alguma coisa!


Como era previsível e necessário, começaram as manifestações em Parauapebas exigindo providências para a grave crise de segurança pública que se instalou no município.

A recente onda de desaparecimentos, mortes e assaltos violentos espalhou o medo e agora gera a reação de alguns setores da sociedade naquela cidade.

Alunos da rede pública de ensino interditaram por algum tempo a rua “E”, em frente à Câmara Municipal, ontem (15), para protestar contra a insegurança e pedir providências às autoridades municipais. Os manifestantes pretendem que seja instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o aumento da violência na cidade.

Não acredito que uma CPI, no âmbito do município, tenha grande serventia. Existem outros mecanismos que podem e devem ser usados para estabelecer o enfrentamento ao problema da segurança pública na cidade. O importante é que, afinal, mais uma vez a sociedade começa a despertar para a necessidade de discutir o assunto.

Mas isto é assunto para outro post. Neste, a questão é outra.

Vejam lá.

Para quem não conhece Parauapebas, é importante dizer que desde a sua fundação, ainda um distrito da cidade de Marabá, estava clara a sua vocação para o crescimento. Parauapebas afirmou-se enquanto o burgo mais próspero do Pará e do Meio-Norte contra a vontade da Companhia Vale do Rio Doce, então uma estatal que pretendia tornar a região da Serra de Carajás seu quintal, seu feudo.

Mas, a perseverança dos pioneiros, especialmente goianos, maranhenses, capixabas e gaúchos, foi mais forte e o que era chamado "Inferninho", um amontoado de barracas ao longo de uma rodovia, tornou-se uma cidade vibrante, com um comércio em permanente expansão, mutante, como qualquer cidade jovem. Passe um mês sem visitar Parauapebas e na volta a encontrará diferente, ainda maior e mais bonita.

Mas, as dores do crescimento não podem ser evitadas.

O desenvolvimento econômico transformou o "Pebinha de Açúcar", como é carinhosamente chamada a cidade, em um polo de atração irresistível para os empreendedores, mas trouxe também os malfeitores.

Assim, em Parauapebas vive-se as duas vertentes da crise de segurança pública que assola os grandes centros do País.

Temos a crise estrutural, formada pela mistura de demandas sociais crescentes por mais educação, saúde, empregos e até urbanização e iluminação pública, com a escassez de recursos para provê-las todas ao mesmo tempo e na velocidade com a cidade cresce; e temos a crise conjuntural, formada pela omissão do Estado em prover o aparato de repressão ao crime com as condições mínimas de trabalho.

Os dois últimos prefeitos, Bel Mesquita e Darci Lermen, com todas as críticas que se lhes possam fazer, conseguiram avançar em diversas dessas áreas que digo estruturantes. Os números apontam crescimento na atenção à saúde, na matrícula de crianças e jovens, na média de empregos e queda na mortalidade infantil, evasão escolar e outras mazelas sociais. Porém, é claro que apenas a ação dos prefeitos não é e nunca será suficiente para garantir o pleno atendimento das demandas sociais.

Particularmente naquelas áreas que tocam ao Governo do Estado do Pará, Parauapebas sofre com carências enormes.

Dou-lhes um exemplo. No episódio tenebroso da morte da pequena Thais, viu-se que o corpo da criança permaneceu por mais de seis horas (!) exposto, no lugar em que foi encontrado, aguardando a chegada da equipe de peritos do Instituto Médico Legal (IML), deslocados de Marabá para atender a ocorrência.

Considere que Parauapebas, com quase 200 mil habitantes e como TODAS as cidade do Pará, acima da média nacional de homicídios, projeta mais de 50 homicídios ao ano. Considere que o IML deve ainda periciar outras mortes violentas como aquelas decorrentes de acidentes de trânsito, por exemplo.

Dito isto, é verdadeiramente um absurdo que até hoje não tenhamos uma extensão do IML em Parauapebas e todos os corpos a serem periciados sejam trasladados para Marabá e depois devolvidos aos familiares.

O atual vice-prefeito de Parauapebas, Afonso Andrade, quando vereador chegou a apresentar projeto de lei criando o Serviço de Verificação de Óbitos no âmbito do município. A iniciativa infelizmente foi arquivada. Deputados estaduais como Faisal Salmen, Claudio Almeida e, se a memória não me trai, Bel Mesquita chegaram a pleitear a implantação do IML em Parauapebas. Novamente a iniciativa jamais saiu do mundo etéreo das intenções.

É terrível pensar que a família da vítima, após sofrer um golpe terrível, seja ainda punida com transtornos que envolvem gasto de tempo e dinheiro para poder, enfim, chorar sua perda e enterrar seu ente querido.

Querem outro exemplo?

O contingente das polícias civil e militar em Parauapebas não é aumentado há mais de sete anos!

No caso da polícia militar, cabe ao comando sediado na cidade prover segurança ostensiva em cinco municípios vizinhos com um efetivo que seria insuficiente para patrulhar apenas Parauapebas!

Considerando o que ganham e como trabalham os homens e mulheres que integram a PM e a PC, somente o compromisso de vida que a maioria tem com sua missão explica que a coisa não esteja ainda pior.

Aos manifestantes sugiro que redirecionem o alvo. Não basta apertar vereadores e prefeito. Deus sabe que eles merecem ser apertados! Mas, é importante que o Governo do Estado do Pará seja confrontado com a realidade que tenta mandar para debaixo do tapete. Na propaganda oficial, Simão Jatene praticamente resolveu o problema da segurança pública! No Pará real, a violência não para de crescer.

Aos deputados estaduais Milton Zimmer, Bernadete Ten Catten e João Salame Neto peço que se manifestem urgentemente no sentido de cobrar do Governador do Estado que cumpra o seu dever e ofereça segurança pública de verdade, sem as enganações costumeiras. Aos deputados federais Asdrúbal Bentes, Claudio Puty e Wandenkolk Gonçalves peço que façam repercutir o pedido de segurança e justiça que Parauapebas começa a esboçar, por todo o País. Quem sabe não será de Parauapebas que começará uma grande onda de manifestações capaz de tirar do comodismo o governo do Pará? (Foto: site Pebinha de Açúcar.Com)
 
Fonte: Wilson Rabello-

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